sexta-feira, 21 de setembro de 2007

HISTÓRIAS DO TENENTE ADAUTO - 3

Histórias do Tenente Adauto – 3


Natal, durante a Segunda Guerra Mundial, serviu de base militar norte-americana na campanha da África, como era chamada a luta que foi travada entre as forças aliadas contra os nazistas pelo controle do petróleo na África do norte. Nesse tempo era grande o afluxo de militares na cidade, tanto estrangeiros como nacionais. O movimento de soldados e carros de combate era frenético nas ruas da capital norte-riograndense.

Em uma dessas idas e vindas de carros militares, certa vez o Tenente seguia em um Jeep, fazendo a escolta de um Capitão do Exército, partindo de uma cidade interiorana até o Quartel do Exército em Natal. O Tenente, à época um simples recruta, tinha a fama em toda instalação militar, de não dispensar uma boa aguardente, geralmente na hora do almoço, para abrir o apetite, como dizia, ou nos acampamentos e treinamentos militares no interior do Estado. Quando se pensava na velha cachaça nos cansativos adestramentos para a guerra, o cantil do Adauto era a fonte mais precisa para se encontrar o precioso e disputado líquido.

Pois bem, no percurso programado, seguia no Jeep o recruta Adauto fazendo a guarda do Capitão. Entre uma conversa e outra tornaram-se amigos e descobriram uma afinidade em comum: o gosto pela famosa pinga. Descoberta essa identidade alcoólica, ambos trataram de programar paradas estratégicas no caminho, a fim de degustarem o tal líquido amargo, para conter o desgaste da viagem.

Seguindo o plano de viagem, pararam no primeiro povoado, porém, no instante em que iam entornar a primeira rodada de aguardente, aparece um velho padre olhando para o Jeep. O enfadado religioso, já extasiado pelo calor e o mal cheiro que exalava de sua batina escura, ao ver o veículo militar vai ao encontro dos dois viajantes. Nesse momento quando notaram a presença do padre, aperreados, ingeriram de imediato suas doses, temendo a condenação sacerdotal. O velho padre então pergunta qual o intinerário da viagem dos militares e, sem que o Capitão terminasse a resposta, se oferece para seguir com eles de carona até Natal. Não tendo como negar o pedido do religioso, o Capitão entreolhando com tristeza para o recruta Adauto, responde afirmativamente.

A viagem segue monótona pela estrada carroçal, a poeira e o calor sufocam os viajantes, ressecando-lhes as gargantas. Chegando ao povoado em que haviam combinado a segunda parada, o Capitão fatigado, ordena ao motorista que estacione o automóvel em uma pequena birosca na entrada de uma vila de casas. Reservadamente, reclama ao recruta Adauto a falta de sorte que haviam tido, com o aparecimento do velho padre. Pois estava necessitando urgentemente de tomar uma cana para relaxar, contudo, em respeito ao religioso, não imaginava como conseguir tal intento. O recruta expõe a mesma preocupação, mas, mesmo constrangido, se encarrega de enfrentar o representante divino.

O recruta Adauto chega ao sacerdote e pergunta se este deseja um refrigerante, e ele pede água. Então o recruta anuncia:

- Seu padre, é o seguinte: nós vamos tomar uma cachacinha, o senhor nos acompanha?

O Capitão envergonhado vira a cara para o outro lado preocupado com a resposta de desagrado do religioso, que responde:

- Soldado, será que tem um cajuzinho para tira gosto?

Os dois militares caíram na risada com a indagação do padre, descobrindo que ali estava um forte companheiro de copo. A afinidade se materializou mais ainda quando o sacerdote pagou primeira rodada de cachaça para os três. Daí por diante o trio cumpriu todas as paradas predeterminadas para ingestão do aperitivo de cana, chegando à capital potiguar embriagados e felizes.

Autor: Nivaldo Barros da Costa

2 comentários:

Tania disse...

As Histórias do Tenente Adauto tinham que vir à tona qualquer hora dessas.Além de super engraçadas enrriquecem grademente a literatura nordestina,principalmente pelo estilo como estão sendo contadas por este escritor ainda anônimo e tão talentoso Nivaldo Barros.Parabéns!

Tania disse...
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